sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Relacionamentos

“Um relacionamento nunca cria nada. Ele só pode trazer algo que já é existente. Assim, nunca jogue a responsabilidade no outro. O outro é, no máximo, uma ajuda para lhe mostrar as subcorrentes de sua mente. Cada relacionamento é um espelho; ele revela sua identidade a você.” (Osho)



Nós vemos apenas aquilo que queremos ver nos outros. A isso chamamos de “projeção”. Projetamos no outro o tempo todo nossos desejos, ideais e sonhos. Evidentemente, isto não é totalmente ruim esperar sempre o melhor de todo mundo. O problema é quando se cria uma grande expectativa, uma ilusão de perfeição ou se coloca uma aura de divindade em uma pessoa tão humana (demasiado humana, como diz Nietzsche) quanto qualquer outra que também erra e mente. Neste pequeno texto de Osho, ele resume sábiamente a idéia de como fazemos o tempo todo a projeção no outro:


As projeções

É um fato conhecido: você não se apaixona por alguém; você não se apaixona pela pessoa real, você se apaixona pela pessoa de sua imaginação. E enquanto vocês não vivem juntos, e você vê o outro da sua sacada, ou você o encontra na praia por alguns minutos, ou você segura suas mãos no cinema, você começa a sentir: “Somos feitos um para o outro” .

Mas ninguém é feito um para o outro. Você vai projetando mais e mais imaginação sobre o outro, inconscientemente. Você cria um certa aura em torno dele e ele cria uma certa aura em torno de você. Tudo parece ser lindo, porque você faz tudo parecer lindo, sonhando, evitando a realidade. E ambos ficam sonhando, tentando de todas as formas possíveis não perturbar a imaginação do outro.

Assim, a mulher se comporta do jeito que o homem quer que ela se comporte; o homem se comporta do jeito que a mulher quer que ele se comporte. Mas isso só pode durar alguns minutos ou algumas horas no máximo.

Uma vez que vocês se casem e tenham que viver juntos vinte e quatro horas por dia, torna-se uma carga pesada continuar fingindo alguma coisa que você não é.

Preencher a imaginação do homem ou da mulher, por quanto tempo você pode continuar representando? Mas cedo ou mais tarde torna-se um peso e você começa a se vingar. Você começa a destruir toda a imaginação que o homem criou em torno de você, porque você não quer ficar aprisionada nela; você quer se livrar daquilo e ser você mesma.

E a mesma é a situação com o homem: ele quer se livrar e ser ele mesmo. E esse é o conflito entre todos os amantes, em todas as relações.

A realidade é: somos sozinhos, somos estranhos e será muito melhor se aceitarmos a verdade básica de que somos estranhos. Podemos saber o nome um do outro, podemos ter visto o rosto um do outro muitas vezes – isso não importa. Nossos seres estão tão escondidos e tão lá no fundo, que não há como eu poder tocar o ser de alguém, ou possa ver o ser de alguém – e é aí que reside toda a estranheza. Mas não acho que isso seja uma catástrofe; pelo contrário sinto isso como uma benção. Se não fôssemos estranhos seríamos robôs. Nossa estranheza nos dá individualidade, singularidade".


De acordo com Bia Flauaus
, muitas vezes nos sentimos magoados, incomodados ou decepcionados com o outro. Precisamos procurar nos manter o mais atento e presente possível, para observar onde estão em mim essas características de que não gosto no outro... Quando enxergo essas características (ou defeitos) em mim, começo a ter uma conduta amorosa comigo mesmo, me aceitando melhor como sou, apesar de meus defeitos. Nos aceitar como se aceita um filho, por mais que se discorde de suas condutas ou escolhas...

O fato de nos tornar conscientes dessas projeções, nos transforma, e tudo isso diz respeito somente a nós mesmos, independe de se o outro tem ou não aquelas características que observamos nele... Neste sentido, portanto, o que deve nos interessar não é idolatrar ou crucificar o outro, mas apenas reconhecermos no outro características que também são nossas, para que possamos estar atentos ao nosso auto-conhecimento.

Dessa maneira, podemos ir nos encontrando, aprendendo a aceitando aquilo que somos. Nesse caminho, o afeto que temos pelo outro permanece o mesmo, pois somos capazes de perceber que ainda precisamos projetar (ainda que precisamos do espelho do outro), somos capazes de voltar sempre ao nosso centro, de nos encontrarmos novamente conosco e de permanecermos amando o outro, independentemente de quão desagradáveis sejam nossas projeções sobre ele...

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