sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Saber viver só

Raquel Stela de Sá


Acredito que quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso, ao contrário, dá dignidade ao ser humano. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa "alma gêmea" e, na verdade, o que se faz é "inventá-lo" na nossa forma de pensar. Colocamos essa pessoa num pódium e isto não é nada bom, porque ao colocá-la neste lugar de destaque, nos colocamos bem mais abaixo.

Tem muitas pessoas que vivem a vida inteira mudando de relacionamento, não sabem ficar sozinho, ou não querem ficar sozinho porque tem medo.
Pulam de "galho em galho" procurando a pessoa certa para "se completar", pois sozinhsa não conseguem ser felizes.

Ficar só faz com que se reflita sobre a vida. No entanto, muitas vezes, não se deseja nem refletir sobre a vida, nem sobre os problemas que se tem. Cria-se uma vida "fantasiosa," afirmando-se sempre aos quatro cantos que tudo está "ótimo. Muitas vezes essas pessoas tem muitos problemas que procuram esconder, discursando belas frases sobre pensamentos positivos, ignorando tudo o que se passa ao seu redor. Ou seja, discursa-se uma coisa e faz-se outra. Claro, parece que é mais fácil viver assim, de aparências.

A pessoa quando está sozinha consegue compreender que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dela mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso, ela se torna mais compreensiva quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.

Quem não consegue viver sozinho e coloca toda a sua felicidade na mão de outra pessoa é dependente de relacionamentos, é carente, inseguro, e está sempre pronto a agradar. O bajulador, mesmo não acreditando muito no que diz, está sempre procurando agradar os outros, para que assim receba em troca o mesmo agrado. Faz isto tanto em sua vida pessoal, como na profissional, parecendo aos outros uma pessoa perfeita.

Para que seja amado, sufoca o parceiro (a) ou qualquer pessoa que se relacione com o ele. No entanto, vira o jogo e diz que dependente é o outro. O dependente quer ser sempre amado, quer aproximar as pessoas de si porque tem medo de viver sozinho os seus problemas e pensamentos. Como nunca aprendeu a viver um relacionamento afetivo saudável, sem dependência, não consegue agir de outra maneira.passa a repetir em todas as suas relações o mesmo padrão. É só olhar para trás e ver o que vai ser o seu futuro.

Para quebrar esse ciclo, o dependente precisa aprender a amar de forma saudável. Primeiro, é fundamental amar-se a si próprio. Uma pessoa com baixa estima não gosta muito de si mesmo. Portanto, o processo de cura passa pelo resgate do amor próprio, por saber viver sozinho, para que possa relacionar-se de forma equilibrada no amor, na família e no trabalho.

A dependência leva muitas pessoas a viverem em outo-anulação, ou seja, não tomam consciência dos seus padrões destrutivos e autodestrutivos. Podem chegar a viver uma vida inteira convencidos de que seus problemas tem a ver com traços da sua personalidade ou acreditando que está sempre certo e que os outros é que vivem de forma errada.

Alguém que se deixe dominar por estes padrões cognitivos e comportamentais, perde a liberdade de pensar e agir em função de si próprio, dos seus valores e princípios. Esses padrões tornam-se autênticos vícios. Depender demais do outro não nos dá amor nem liberdade, mas muitas vezes: ansiedade, desgaste, medo, raiva e culpa.

Na luta constante no sentido de dar, de agradar, mudar e "salvar os outros" (insistindo que o outro confesse se está bem ou não, mesmo que as vezes não deseje falar) para sentir-se útil, necessário e muitas vezes até imprescindível.

A pessoa dependente de outro (que não consegue viver sozinha) procura viver diversas relações amorosas até perceber que é viciado em "conquistar." Como qualquer outra dependência, pouco importa o que o outro esta sentindo, a qualidade da relação, o mais importante é conquistar alguém, é estar com alguém; se não der certo, paciência, parte para outro relacionamento.

Este tipo de pessoa necessita de auto-afirmação constante, algo na sua vida está mal-resolvido (talvez algum problema que ficou lá atrás referente a sua infância). Neste sentido, o mais importante é o processo de livrar-se desta necessidade do outro, do medo de estar sozinho, já que todos os seres humanos nascem e morrem sozinhos.

Conforme Krishnamurti, estar só implica que a pessoa não depende de outra, psicologicamente; não está apegada a ninguém. Isso não é dizer que não há, então, amor; o amor não é apego. Estar só significa que, profundamente, interiormente, não existe nenhum movimento de medo e, por conseguinte, nenhum movimento de conflito.

O pensamento que mais faz sentido neste momento eu tomo emprestado de
Caio Melo: Que eu seja completamente feliz sozinho, assim não precisarei de alguém para me completar. A partir dai se alguém vier a ficar do meu lado desejo-lhe felicidades, para que possamos somar um ao outro.

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