terça-feira, 13 de setembro de 2011

Raiva: consome energia e limita nossas ações



Adaptado de Flávia Leão Fernandes e de
Fred Luskin




É normal sentir raiva. A raiva é um sentimento de protesto, insegurança, timidez ou frustração, contra alguém ou alguma coisa, que as pessoas demonstram quando se sentem ameaçadas.

Varia de intensidade e de pessoa para pessoa, podendo ser uma simples irritação ou uma demonstração de fúria. A maneira como cada pessoa interpreta um fato corresponde ao modo com que ela percebe o mundo e a si mesmo.

O sentimento de raiva tem origem na idéia de que fomos injustiçados ou maltratados, tendo como base vivências do passado. Se no passado a pessoa foi muito maltratada ou punida, há uma tendência de se manter "alerta" contra futuras ameaças, de maneira desproporcional ao evento. Torna-se conhecida como uma pessoa de "pavio curto" e suas explosões são uma tentativa de se proteger do que acredita ser uma agressão.

Quando são muito freqüentes, ou intensas, ou mesmo quando ausentes, podem ser um problema para as relações sociais e para a saúde física. Por outro lado, há as pessoas que se sentem incapazes de reagir frente a uma situação de maltrato, podendo gerar sentimentos de frustração e de depressão.

Na raiva, como em todos os estados do humor, há alterações no comportamento e no funcionamento físico. Em nossa sociedade, a raiva ou irritação é até mesmo confundida com determinação.


Estudos comprovaram que expressões de raiva transmitem a impressão de que o raivoso é uma pessoa mais competente. Grande engano, é só impressão. A maior competência é na verdade, para desenvolver doenças, principalmente as do coração.

Janice Willians, pesquisadora da Universidade da Carolina do Norte, EUA, estudou durante seis anos o comportamento de 13 mil homens e mulheres com idade entre 45 e 64 anos. Classificou as pessoas em níveis de alta, média e baixa disposição à raiva. As com alta tendência, que se irritam com freqüência, possuem três vezes mais possibilidades de sofrer infarto que as pessoas que enfrentam as dificuldades com mais tranqüilidade.

Significa dizer que o sentimento freqüente de raiva é tão ruim para o coração como fumar, comer muita gordura saturada, engordar e não fazer exercício físico.Pode também causar distúrbios no aparelho digestivo, sem dizer que pode ser considerado um desequilíbrio psicológico.

O comportamento agressivo do raivoso pode se expressar através de violência verbal e até mesmo através de violência física. Quem dá vazão ao sentimento de raiva, apenas para se libertar dele, como uma evidente prova de desequilíbrio emocional pode se dar mal, pois não é possível prever como isso irá terminar.


No livro "O poder do perdão", o psiquiatra americano Fred Luskin, apresenta a sua experiência e estudos sobre esse tema. Ele demonstra que o processo de perdoar pode ser treinado e desenvolvido. Ele utiliza a metáfora de um aeroporto, que está com o tráfego aéreo congestionado, para explicar como fica a mente de uma pessoa, sobrecarregada pelas mágoas. Cada avião que está no ar é comparado a uma mágoa, que enquanto não pousa, fica exigindo energia e exaurindo os seus recursos.

Quando guardamos uma mágoa e pensamos na dor que sofremos, o cérebro reage como se estivéssemos em perigo naquele momento. Ele produz substâncias químicas ligadas ao estresse, que limitam as nossas ações. A parte pensante do cérebro fica limitada, é quando agimos sem pensar para nos livrarmos da sensação de perigo.

Portanto, a mágoa consome muita energia, pois cada vez que contamos o que aconteceu, os mesmos sentimentos são desencadeados. O cérebro não sabe distinguir se aquela traição ou agressão aconteceu agora ou há três anos.

Assim como escolhemos o canal de TV que queremos assistir, também podemos aprender a escolher qual o "canal" que estará passando na nossa mente. Podemos escolher pensar no quanto fomos vítimas, o quanto fomos machucados, e com isso perpetuar o nosso sofrimento ou podemos escolher pensar no quanto fomos fortes para sobreviver ao que aconteceu e mudar o nosso foco.

Não significa que devamos passar por cima da tristeza, da dor e da raiva que sentimos, mas precisamos aprender que existe um tempo para esses sentimentos.

Uma forma de mudarmos o "canal" da nossa mente é pensar em como podemos mudar a história da nossa dor. Qual a história que contamos para nós mesmos sobre o que nos aconteceu?

Relembrar o fato, falar disso inúmeras vezes, ficar no lugar de "vítimas" dentro da história que contamos, nos dá a sensação de que o sofrimento que passamos não será esquecido e que se e abandonarmos esse lugar, quem nos fez sofrer ficará liberado de pagar pelo que fez.

Mas, conservar a mágoa, nos mantém ligados de forma ineficaz à pessoa que nos fez sofrer. O outro provavelmente não está sofrendo, nem mais e nem menos, só porque mantemos a mágoa dentro de nós. Cada vez que contamos a história da nossa dor, ressaltando o quanto fomos vitimas daquela pessoa e enfatizando o quanto ela foi cruel conosco, continuamos dando poder a ela. Ficamos presos num papel que não deveria ser mais o nosso. Precisamos ultrapassar esse momento, precisamos nos curar.

Que tal parar um pouco e reformular a história da nossa dor? Sem forçar acontecimentos ou inocentar ninguém, mas colocando um foco nas nossas atitudes, no que fizemos e podemos fazer de construtivo diante do que aconteceu.

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